(por José Campinho)

Nos últimos dois meses, sempre que percorro a vereda norte do Pico do Facho, no Porto Santo, deparo-me com um casal de mantas folgazonas. Quando me aproximo, já conto com vê-las na brincadeira, entregues a incríveis evoluções acrobáticas, interrompidas por voos picados e rasantes, num atrevimento só admissível pela cumplicidade que se tem criado entre nós (eu prefiro pensar assim)! O mais espantoso é quando lá em cima, abrem aquelas asas delta de um metro e vinte e se deixam ficar a pairar, peito ao vento, a fingir de morto, a ver se a gente acredita!
Em 2015, a população de mantas da Madeira e do Porto Santo foi estimada em cerca de 300 aves. A subespécie Buteo buteo harterti é endémica do arquipélago da Madeira. Estas aves têm uma alimentação variada que inclui pequenos mamíferos (ratinhos e coelhos), e também outras aves menores, répteis, anfíbios e insectos. Assim sendo, ali entre o Pico do Castelo e o Pico da Gandaia, de papinho cheio, não precisam de mais nada!
Já há dias o meu amigo Domingos Xavier tinha avançado com a dúvida: não são minhotos? Fui ver. E não é que sim! Manta, águia-de-asa-redonda, búteo, milhafre ou minhoto, são nomes que geralmente se referem à mesma ave de rapina. O minhoto, pássaro mítico da minha infância na aldeia! O terror das capoeiras de Gamil!
Pois é talvez por isso, por serem estes pássaros minhotos como eu, que agora nos entendemos muito bem! E quando lá voltar, vou cantar-lhes uma modinha da nossa terra:
– Eu hei de subir ao alto, ao alto eu hei de subir!
– Mas quem ao mais alto sobe,
ao mais baixo vem cair,
ó fresca da ramalheira,
ao mais baixo vem cair!
(16 de junho de 2020)