Recordar sabores do passado no Bar da Ana

“Reavivar memórias, através de cheiros e sabores que lhes trazem muita alegria.”

(Entrevista em torno de um elemento único da gastronomia porto-santense)

A Ilha do Porto Santo tem sabores e saberes únicos.

No Bar da Ana, no Sítio da Lapeira, é possível encontrar tudo isso. Lá, num espaço cheio de história, encontramos um prato único – a escarpiada.

A Ilha – Porque decidiu recuperar a escarpiada?

R: Antigamente a escarpiada era vista e saboreada tal como um prato principal, acompanhada por uns ranchões da terra ou uma sarralha estaladiça. Quem podia, fazia-lhe par com um chicharro feito na brasa. Ora, eu cresci com este sabor. Havia escarpiada todos os dias em casa.

Trazer esta iguaria para o meu bar teve dois propósitos: primeiro, para o diferenciar de outros bares, que eu saiba, não tinham este petisco à disposição dos seus clientes e, em segundo, para relembrar um sabor do passado. Não só há muitos jovens que não sabem o que é a escarpiada, mas também há muita gente que deixou cair esta receita no esquecimento e esta é uma forma de reavivar memórias, através de cheiros e sabores que lhes trazem muita alegria. Aqui, dou-lhe um toque especial que é a manteiga de alho que não pode faltar…

No Bar da Ana cruzam-se tempos e sabores

A Ilha – Qual tem sido a reação dos clientes?

R: Os nossos clientes têm visto o reaparecimento desta iguaria com muita satisfação. E os que não a conheciam, passaram a ser os primeiros a voltar e a pedir mais. Seja para acompanhar uma cerveja, para um lanchinho rápido ou para juntar a um brinde, esta é uma boa opção. E podem sempre pedir na hora ou encomendar e levar para casa, quentinha, com a manteiga ainda a escorrer e saborear no conforto da sua casa.

A Ilha – Quais são os ingredientes e a forma de cozinhar a escarpiada? R: Esta é uma iguaria que não tem muita ciência nem precisa de muita mestria. Basta farinha de trigo, farinha de milho, sal q.b., água e uma frigideira antiaderente (Se quiser juntar 1 ovo e um pouco de leite, fica diferente da receita original, mas muito saboroso).

No Bar da Ana, a tradição gastronómica

O modo de preparar é como se faz com o arroz. A medida da farinha de milho é o dobro da medida da farinha de trigo. Depois da frigideira quente, untada com um fio de azeite, colocam-se porções (costumo usar a concha de servir a sopa) da massa bem mexida (consistência parecida à das panquecas) e deixa-se fritar até ficar com as bordas estaladiças.

Gastronomia porto-santense num Bar com muita história

Na Lapeira, um espaço com sabores tradicionais

Aberto deste 25 de Fevereiro de 2018, o Bar da Ana é um espaço com muita história, como nos conta a atual proprietária.

“Este bar era, nos anos 60, quando era eu ainda bebé, a mercearia do meu pai. Uma mercearia aberta com muito esforço e sacrifício, fruto do trabalho de um emigrante por 10 anos no Curaçau.

Nunca me passou pela cabeça ou pelos sonhos pegar num negócio de família e torná-lo real, até há uns anos. E com a motivação da minha família e uma pitada de coragem, lá fui tentar a sorte. E este bar passou, de facto, a ser um sonho que não sabia que tinha.

“O servir a escarpiada parece fazer o tempo voltar um pouco atrás…”

Este bar já passou por muitas mãos ao longo do tempo. Mas sinto que apesar de ter um estilo diferente daquele idealizado pelos meus pais, o servir a escarpiada parece fazer o tempo voltar um pouco atrás. Não para uma época de riqueza, porque naquele tempo as dificuldades existiam, como existem agora e talvez ainda mais acentuadas pelas restrições que se cumpre, com algum pesar, para travar esta pandemia. Mas para uns anos em que o trigo enchia os campos, em que as festas eram à volta das espigas de milho e o dourado da Ilha era o nosso alimento.

Os tempos são difíceis, os negócios no Porto Santo estão a passar por dificuldades e as pessoas também. Esperemos que venham tempos melhores, com luzes de bonança, para todos.

Carlos Silva

Depois de uma viagem tranquila, mergulhado num mar de dúvidas, aportei a 2 de setembro de 1999, à Ilha do Porto Santo! À chegada, uma doce e quente onda de calor, qual afago de mulher amada, assaltou-me, até hoje! Do sucedido de então, até aos dias de hoje, guardo-o na memória; os sucessos, de hoje em diante, aqui ficam, para memória futura, da minha passagem pela Ilha!

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