Last Updated on 11/09/2020 22:25 by Carlos Silva
(Artigo de opinião, por Carlos Silva)

Conta-se que a cidade de Tróia, cujas muralhas, se dizia, tinham sido construídas pelo próprio deus Neptuno, resistiu apenas 10 anos às investidas dos Gregos. Destruídas as muralhas, a cidade troiana caiu no esquecimento. No Porto Santo, por outro lado, há muros, erguidos por mãos calejadas de artesãos porto-santenses, que se mantiveram firmes durante quase um século! O canal de captação de água do mar, na Fontinha, é um extraordinário monumento arquitetónico! Ou era, já que a Natureza e, sobretudo, o desleixo humano o levaram à ruína.
Uma estrutura quase centenária, tragicamente, ruiu!
Não foi hoje! Foi um processo que se arrastou ao longo dos anos; esquecido pelas entidades (ir)responsáveis, a destruição acentuou-se nos últimos tempos. Primeiro foi a falência do projeto, depois o abandono. A seguir desapareceu a cobertura e, a pouco e pouco, as pedras aparelhadas da testeira e os muros de suporte colapsaram. Até à ruína total! Hoje a estrutura é um monte disforme de pedra e um perigo iminente.
Mas nem sempre foi assim. O canal de captação de água do mar, para extração de sal, marca(va) a paisagem na praia da Fontinha, durante décadas. Não resistiu ao tempo, nem à incúria dos homens!

Tanto pela ação do mar, como pelo desprezo ou ignorância de organismos públicos e privados, este testemunho da outrora pujante indústria extrativa porto-santense (a par do atum, da cal, ou das águas – igualmente ao abandono) é hoje um montão de pedras abandonado. Ó Reserva da Biosfera!
Tanta História! É preciso consultar as fotos a preto e branco da página Porto Santo Antigamente para perceber a vetustez desta peça industrial histórica. Quase centenar! 100 anos de história ao abandono!
“Uma estrutura quase centenária, tragicamente, ruiu!”
Marco na paisagem do extenso areal, o canal constitui agora um perigo para a segurança dos utentes: pelo perigo de desabamento, pelos obstáculos enterrados na areia, pela influência nas correntes que provoca com a maré cheia. Utilizado, ao longo de gerações, como espaço de brincadeira infantil: fortaleza inexpugnável, castelo de princesas, pódio de campeões, prancha de mergulho, constitui agora um perigo para a segurança dos mais pequenos. Até para os hóspedes do hotel ali situado ao pé.
Levantam-se as questões:
Quem é o teu senhor, ó ilha?
Quem tem as rédeas do poder, ó pequeno monumento?
Quem te abandonou? Quem cuida de ti, ó Porto Santo?
