
Porto Santo é uma ilha. Única!
Porto Santo vive, pela sua própria natureza, isolado. Há 600 anos que é assim. Espera-se a chegada de um barco, ou de um avião com a mesma ansiedade de um noivo. A insularidade moldou a cultura, moldou as gentes, moldou a Ilha. Hoje, a pandemia veio baralhar tudo!
O Porto Santo é, agora, mais ilha. Com as suas caraterísticas muito próprias. Durante séculos o isolamento foi visto como uma desvantagem, hoje poderá ser utilizado como uma mais valia. A dupla insularidade afinal, trouxe vantagens. Quem diria? Perante a ameça que vem do exterior na forma de um vírus, a ausência de ligações marítimas e a redução de voos tornou-se uma benção. Quem diria? Ao longo de um ano, a Ilha foi poupada. Teve casos esporadicamente, é certo, mas assumiu-se como porto seguro. Agora, a atravessar uma fase crítica, as autoridades assumem que as cadeias de transmissão estão controladas.
Valerá, então, a pena, este confinamento? Serão necessárias estas medidas mais restritivas adotadas para o arquipélago? Porquê confinar? Porquê limitar a Economia (ainda que ao ritmo do mês de Janeiro), no Porto Santo? Porquê fechar Escolas? Porquê encerrar Clubes? Porquê impedir eventos culturais? Já alguém pensou nos impactos económicos, sociais, mentais deste confinamento? Um ano depois, não aprendemos nada? Não teremos nós adquirido a capacidade de nos protegermos? Não poderemos explorar a ausência do Lobo Marinho e a redução de voos a nosso favor?
Porquê então, adotar as medidas restritivas que o Governo Regional tomou para a Madeira, esta semana?
Porquê fechar mais cedo restaurantes? Porquê confinar toda a gente a partir das 19 horas? Porquê fechar Escolas aos alunos mais velhos?
A autoridade local de saúde, Dr. Rogério Correia, já garantiu ter a situação controlada. Em declarações ao Diário de Notícias, na passada segunda feira, afirmou já ter sido atingido o pico de infeções, e a situação estar a estabilizar, entrando na “fase de recuperação”.

Os números demonstram essa estabilização. Depois da subida galopante, nos primeiros dias do ano, a curva estabilizou na meia centena de casos. No dia 6 de janeiro, a Ilha registava 87 suspeitos, 50 casos positivos e 6 recuperados. Uma semana mais tarde, a 13 de janeiro, temos 92 casos suspeitos, 55 positivos e 9 recuperados. As cadeias de transmissão estarão circunscritas.
Se o problema está contido, se os casos pouco ou nada aumentaram, se não temos comunicação com o exterior, é necessário adotar medidas tão restritivas?
Idalino Vasconcelos, Presidente da Câmara, e responsável máximo pela Proteção Civil Municipal considera que sim. Teceu aliás, rasgados elogios às medidas tomadas pelo Governo Regional. No mesmo jornal, adjetivos como “assertivo” e “rigoroso” são empregues pelo edil para caraterizar a ação do Governo. São as “medidas adequadas para o controlo da propagação”, acrescentou. Porquê? Porquê adotar medidas restritivas, quando os contactos com o exterior estão reduzidos ao mínimo? E os poucos que chegam são testados?
Uma das medidas incompreensíveis, tomadas na primeira fase da pandemia, foi o encerramento da praia. Na altura o medo e o desconhecido fizeram o seu caminho. Hoje, o medo continua, mas há um capital de experiência acumulado.
Temos que pesar os dois pratos da balança. Continuarão a surgir casos? Teremos mortes por Covid? Muito provavelmente. A economia tem que funcionar? Os nossos jovens precisam ir à Escola, aprender, sociabilizar? A Cultura, o Desporto são essenciais ao bem estar social, físico e, já agora, mental? Sim, sem dúvida absolutamente nenhuma.
O Porto Santo é uma ilha muito diferente da Madeira. Porque é que não tratamos de forma diferente o que é diferente? Como sucede em relação ao continente! Com cuidado, naturalmente; cumprindo as regras de etiqueta sanitária com o uso da máscara, manter a distância, higienização das mãos e dos espaços, obviamente!