Quem cuida de ti, Porto Santo? (II)

Batatas, semilhas, cebolas, … frutos da terra porto-santense

Batatas! Caro leitor, hoje vamos falar sobre batatas.

Sabias que o mais famoso tubérculo veio da América do Sul e chegou à Europa pela mão dos conquistadores, como planta ornamental dos jardins aristocratas. É verdade! A sua frondosa rama e as pequeninas florinhas brancas faziam as delícias das famílias endinheiradas do Velho Continente. A descoberta do seu valor culinário chegaria depois. Como chegaram depois as doenças e a fome que levou milhões de irlandeses a fugir do seu país. Com a monocultura da batata instalada nos verdes campos da Irlanda, o surgimento da peste, qual Covid XIX, lançou na miséria milhões de pessoas que viriam a encontrar refúgio na América. Agora do Norte!

As batatas têm muitas histórias. Tal como as barracas no centro da Cidade!

As embaixadas

“Batatas ou semilhas?” A pergunta chegou acompanhada do sorriso malandro de quem gosta de surpreender o turista e aposta na originalidade vocabular. Porque ir às compras a uma daquelas barracas junto à famosa rotunda, não é só comprar frutas ou legumes, como em qualquer grande superfície, é uma viagem na cultura, saberes e sabores de gerações e gerações de porto-santenses. A compra deste delicioso tubérculo não é uma mera troca de batatas por euros. É a oportunidade de conversar e conviver e rir! Tarefas tão raras nestes dias.

É conversar sobre a fazenda e os cuidados postos na produção das batatas, mas também das alfaces e do tomate e da cebola e da abóbora, … Produtos da terra com sabores e propriedades únicas, como bem demonstrou o Eng. João Batista. Bem! É uma compra de 5 minutos que demora sempre 40 ou 50. Mas sempre desassossegada, porque, junto à rotunda, a polícia está à espreita.

“Os melhores embaixadores da Reserva da Biosfera”

Pois é! Um dos graves problemas da exposição do melhor que se produz no Porto Santo é o estacionamento! Comprar um quilo de tomate ou batata é um caso de polícia! Implantadas no terreno emprestado pelo Ministério da Administração Interna, bem no centro da cidade, os clientes dos melhores embaixadores da Reserva da Biosfera não têm onde parar muito tempo.

Além das condições de acesso! O ar pós-industrial do caminho de paletes não faz honra ao valor dos produtos porto-santenses!

Tal como as condições estruturais das barracas! Cada vendedor bem se esforça por ter uma boa apresentação dos seus produtos. Mas nem o profundo amor ao que fazem consegue transformar as velhas chapas de zinco numa imagem aprazível. E é de imagem que falamos! Imagem promocional do Porto Santo! Que exige mais cuidado! Que exige uma resposta!

Naturais! Biológicas! Saborosas!

Depois décadas de promessas políticas e até da construção de um Mercado por parte da Sociedade de Desenvolvimento (hoje transformado em espaço de restauração e loja de roupa), como é possível que o que de melhor se produz na Ilha do Porto Santo seja exposto em barracas precárias? Para quando uma solução digna, senhores responsáveis?

Para quando um espaço com condições de trabalho, com água e luz, com sombra,… digno deste belo embaixador que é a saborosa batata, produto da terra porto-santense?

Batata… ou semilha, tanto faz, que o atum ou o bacalhau da Festa bem merecem um acompanhamento a condizer!

Carlos Silva

Depois de uma viagem tranquila, mergulhado num mar de dúvidas, aportei a 2 de setembro de 1999, à Ilha do Porto Santo! À chegada, uma doce e quente onda de calor, qual afago de mulher amada, assaltou-me, até hoje! Do sucedido de então, até aos dias de hoje, guardo-o na memória; os sucessos, de hoje em diante, aqui ficam, para memória futura, da minha passagem pela Ilha!

2 thoughts on “Quem cuida de ti, Porto Santo? (II)

  1. Professor Carlos Silva, gostaria de acrescentar mais um ponto, que talvez seja importante.
    Em 2019, foi lançada uma marca para os produtos com origem no Porto Santo.
    Toda a gente vestiu uma T-shirt bonita e tiraram muitas fotografias, mas a pergunta que se coloca é a seguinte.
    Quantos produtos estão licenciados nessa marca e quantos euros foram faturados com esses produtos?

    Diria zero euros e zeros produtos.

    Espero que continue, pois são importantes os temas que tem apresentado.
    Cumprimentos,

    1. Obrigado pelo comentário. Eu penso que já respondi noutro local, mas vou deixar aqui a certeza de que essa questão vai ser colocada aos responsáveis, quando houver oportunidade. Para já ficou combinada uma entrevista como responsável pela APIPS, Hugo Brandão. Darei conta das respostas no futuro. Feliz Natal!

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