
Este moinho não é um moinho.
Tal como René Magrite, que por baixo da pintura do cachimbo deixou escrito: Ceci c’est pas un pipe! (Isto não é um cachimbo!), também nós, ao olhar para o estado atual dos moinhos da Portela só podemos dizer: Isto não é um moinho!
Por dois motivos!

O moinho de vento do Porto Santo não é só um moinho, é a representação de um passado e de um povo! Testemunha da resiliência do homem que, ao longo dos séculos, caprichosamente, herculeamente, decidiu resistir num pequeno pedaço de terra, esquecido no meio do oceano Atlântico. Os moinhos de vento são o símbolo do Porto Santo, da sua história secular. E penso que foi isso que motivou os responsáveis políticos a alinhar três moinhos no miradouro da Portela. Para aquele espaço, com uma soberba vista sobre a baía, foram deslocados três dos últimos exemplares do moinho de vento porto-santense. Gigantes a desafiar o esquecimento e a atrair o olhar de milhares de turistas que nos visitam. Património histórico singular!

O moinho de vento do Porto Santo, que hoje observamos na Portela, já não é um moinho! É um símbolo da incúria e do desprezo daqueles a quem foi atribuída a missão de cuidar do património de todos! Sem velas, sem varais, sem mastro! Estão num estado deplorável, deviam encher de vergonha os responsáveis pela sua manutenção! Ao observá-lo vêm à memória as palavras de Alfredo Marceneiro: Porque em ti apenas vejo / A miseranda carcaça / Perdeste de todo a graça / Heróica do teu passado / Hoje ao ver-te assim mudado / Minh’alma cora e descrê / Quem te viu, e quem te vê / Moinho desmantelado…
“Moinho desmantelado”! Não seria de facto melhor desmantelar o moinho? E evitar a vergonha do estado miserável em que se encontram?
Assim, como estão, estes moinhos não são moinhos! Urge uma intervenção rápida, cuidada na preservação de um ícone da Ilha.