
Daqui a 8 meses, os porto-santenses serão chamados a escolher o novo Presidente da Câmara. Miguel Brito, rosto de várias vitórias recentes do Partido Socialista na Ilha e candidato indigitado às eleições autárquicas, acedeu ao convite do jornal digital A Ilha para uma conversa sobre este desafio.
A Ilha – O que podem os Porto-santenses esperar de Miguel Brito?
Miguel Brito – Se há algo que as pessoas podem esperar de mim, é o empenho no nosso projeto de combate à precariedade e de mitigação dos impactos da pandemia. O nosso adversário político não será o Idalino, não será o Tatos,.. nenhum cabeça de lista de outro partido, o nosso adversário político são as dificuldades das pessoas.
A Ilha – Com surge a Política na sua vida?
Miguel Brito – Em determinada altura, dei por mim a perguntar, porque é que ninguém se interessa pela Política, da minha geração. Aos 18 anos temos o direito de escolha e eu sou defensor de que aos 18 anos temos que estar munidos do maior número de argumentos, de todas as forças partidárias ou movimentos para, no dia de eleições, escolher bem. Eu era um produto acabado do Alberto João: quanto mais as pessoas estiverem afastadas da política, mais se domina e mais se permanece no poder. Eu desinteressava-me. Votava de acordo com as caras e não conhecia os projetos. Não podemos voltar ao passado.
A Ilha – Entretanto integra uma lista para a Junta de Freguesia.
Miguel Brito – Em 2013 dá-se a primeira chegada à Política. Eu fui eleito membro da Assembleia de Freguesia. Em 2017, candidatei-me a presidente da Junta, consciente de que a tarefa era difícil.

“Não podemos voltar ao passado.”
A Ilha – E agora, de novo, o desafio autárquico.
Miguel Brito – Não podemos voltar ao passado. Nas eleições que se avizinham, existem forças partidárias que querem voltar ao modelo do passado. O Partido Socialista está aberto à sociedade civil, encontrar equipa, todos serão chamados à implementação e à construção do projeto. O essencial, não é trabalharmos para vencer no dia das eleições. O essencial é trabalharmos para depois podermos cumprir na íntegra o nosso programa. Esse será o nosso foco.
A Ilha – As más línguas dizem que já foi PSD.
Miguel Brito – Nunca pertenci ao PSD. Eles aproveitaram uma fotografia antiga no Facebook, em que estou com um avental do Roberto Silva, num convívio familiar. Tinha e tenho essa fotografia no meu Facebook. Não vou cancelar, porque para mim não atrapalha nada.
A Ilha – Miguel Brito é um candidato de proximidade?
Miguel Brito – O nosso projeto quer transformar a política num setor que as pessoas tenham vontade de se aproximar e não de se afastar. O que temos encontrado, nos últimos anos, é incutir do medo, a política da ameaça, do assistencialismo. Somos contra essa maneira de praticar a política.
A Ilha – Como surge a candidatura de Miguel Brito à autarquia do Porto Santo?
Miguel Brito – Este é um projeto que teve início nas autárquicas de 2017. O Partido Socialista saiu derrotado dessa eleição, mas o número de votos, a diferença demonstrou que não podemos errar. O mínimo erro pode sair caro, sobretudo para a população, não para o partido.
A Ilha – Que retrato faz da sua Ilha?
Miguel Brito – Porto Santo tem os seu problemas, mais do que identificados, há largos anos. Somos uma terra tão pequena, podemos fazer a gestão como uma média ou grande empresa e não compreendemos esta desresponsabilização dos dirigentes. Quando as coisas correm bem, todos querem o lucro; quando corre mal, todos sacodem a culpa.
A Ilha – Por ser uma Ilha, o município do Porto Santo tem caraterísticas muito próprias.
Miguel Brito – Temos uma Câmara Municipal completamente esvaziada de competências, onde só tem as licenças de obras e comércio e a manutenção de algumas estradas. É completamente inconcebível que, numa terra tão pequena, tenhamos estradas regionais e estradas municipais, onde o município varre para o governo e o governo varre para o município e depois discutem sobre qual dos dois deve recolher o pó!
A Ilha – Quais serão as principais bandeiras da sua candidatura?
Miguel Brito – O projeto ainda está em construção, mas há já uma certeza – é preciso fazer um levantamento do retrato social. Esta é uma bandeira que trago desde a candidatura à Junta em 2013: criar uma rede social para, de uma vez por todas, saber como integrar as pessoas. É preciso qualificar. Não podemos cair no erro de tapar o sol com a peneira e limitarmo-nos ao assistencialismo.
A Ilha – E além de uma rede social?
Miguel Brito – Um orçamento participativo. Não entendemos como o Município nunca implementou essa medida. Que faz com que as pessoas participem. Que traz as pessoas para a política. As pessoas vêem um resultado. A Câmara Municipal do Funchal tem implementado anualmente o Orçamento Participativo: parques infantis, espaços desportivos… o melhor resultado que se colhe é a participação ativa dos nosso cidadãos.
Outras ideias irão surgir. Exequíveis.
A Ilha – O Turismo é uma vertente importante na vida do Município.
Miguel Brito – A pandemia veio evidenciar alguns dos problemas do Porto Santo. Vivemos do turismo, mas é preciso contarmos a história dos nossos antepassados, contarmos como viviam as nossas gentes antigamente. Os nossos agentes locais fazem um grande esforço, às vezes, apenas durante três ou quatro meses.
“Quando perdemos as eleições europeias, por um voto, aprendi.”
A Ilha – Ainda há muito trabalho a fazer?
Miguel Brito – Vejamos esta furna aqui no Pico de Ana Ferreira. Todos gostam de tirar fotografias, de lá ir, mas poucos sabem como chegar, falta o caminho, a sinalética. Não se vê esse trabalho, nem por parte da Câmara, nem do Governo, nem da Junta de Freguesia.
A Ilha – E na Cultura.
Miguel Brito – Temos uma Câmara que vê a cultura como um Festival. Não há um planeamento cultural. Há turistas que saem daqui com a ideia de que foi Cristóvão Colombo que descobriu o Porto Santo.
A Ilha – A Cultura de mãos dadas com o Turismo?
Miguel Brito – É preciso diversificar a oferta turística. A praia será sempre o nosso ex-libris, mas precisamos dar a conhecer mais, criar produtos: golfe, literário, agricultura, desportivo. É inconcebível que tenha sido feito um investimento enorme em infraestruturas desportivas e não tenha havido uma calendarização, com várias estruturas nacionais e internacionais, para a organização de torneios, campeonatos, estágios,…
E, claro, temos que qualificar o produto.
A Ilha – A Agricultura também tem espaço no seu projeto?
Miguel Brito – Queremos a constituição de um banco de solos. Os nossos jovens empresários agrícolas precisam de condições, terrenos. O Município deve criar um banco de solos. Investir na captação de águas, recuperar os caminhos agrícolas, também como oferta turística.
A Ilha – São as ideias que vai levar para o terreno?
Miguel Brito – O trabalho faz-se ouvindo as pessoas. Houve uma situação em que eu aprendi uma lição tremenda. Quando perdemos as eleições europeias por um voto, aprendi. Nas regionais tentei falar com toda a gente. Sem diferenciar. Aquela maneira de fazer política do passado em que só por ser da oposição, é do contra e não é válido, tem que acabar. É como um cozinhado: se falta algo, podemos juntar outro ingrediente, se está a mais, tentamos corrigir. Se não, é sempre a mesma coisa. É sempre a mesma sopa.
Miguel Brito na primeira pessoa.

Música/Grupo favorito: Na minha juventude ouvia muito U2.
Desporto de eleição: Gosto de futebol, mas quem me conhece sabe que eu adoro o automobilismo. Um dos sonhos é mesmo trazer, de novo, o rally ao Porto Santo.
Na televisão: Gosto de séries: A Casa de Papel, Peaky Blinders
Personalidade de referência: a minha grande referência é o comendador Rui Nabeiro. Eu gostaria de fazer no Porto Santo algo semelhante ao que o Sr. Rui fez em Campo Maior. Há 60 anos atrás foi capaz de com 4 pessoas e uma carrinha evoluir para o que é hoje, com 4500 funcionários, em meia centena de países. Onde os clientes são vistos como parceiros de negócio. Ele ensinou-me outra coisa que eu transportei para a política: não nos preocuparmos com o que o adversário diz, mas concentrarmo-nos no nosso projeto, no nosso produto.