
9 horas, porto de abrigo do Porto Santo. Armazém da Porto Santo Line.
A orquestra está já bem afinada. Pela manhãzinha, os contentores que chegaram na noite anterior são abertos e, numa sincronia perfeita, dois empilhadores, pela mão dos seus hábeis condutores, vão descarregando toda a mercadoria. Primeiro os medicamentos, de seguida o correio, depois tudo o resto. E o resto é mesmo tudo, do material de construção, aos eletrodomésticos, da passadeira para desporto (que este confinamento ameaça prolongar-se), às caixas de roupa e calçado adquiridas através do comércio eletrónico. O que não é entregue de imediato pode ser depositado no enorme armazém, ou, no caso de necessitar de frio, dentro dos contentores frigoríficos.
A meio da manhã, particulares e empresas, já, praticamente todos, recolheram as suas encomendas e seguem para os quatro cantos a Ilha, com os produtos que irão alimentar o comércio, a restauração, a construção civil. Enfim, toda a atividade económica da Ilha. E é assim, duas vezes por semana. Desde que o navio Lobo Marinho saiu para manutenção, ao sábado e à quarta feira, sob a batuta do “maestro” Roberto Sousa, o Porto Santo não pára. Nem a Porto Santo Line.
Do molhe chega a grua de 70 toneladas carregando o depósito de alcatrão que há-de ser aplicado nas estradas da Ilha.

“Temos aqui um contentor para os congelados, com temperatura até -20 graus e outro até 4 graus positivos, para as frutas, verduras, etc. Fica aqui a semana toda, se alguém precisar e não tiver onde guardar, nós guardamos. Sem custos para o cliente”, vai revelando Roberto Sousa a propósito dos contentores estacionados à porta do armazém. “Até agora não foram utilizados, nem uma grama”. acrescenta.
“Temos aqui estes de carga geral. Normalmente são dois de 40 pés e um de 20. Chegam na sexta, ou na terça à noite e, no dia seguinte, entre as 9 e as 11 horas, praticamente é tudo entregue”. Descreve enquanto a equipa vai distribuindo as paletes pelas carrinhas de transporte.
Em menos de nada, toneladas de produtos e equipamentos seguem rumo a uma Ilha que, apesar do movimento reduzido, nunca está parada.
Uma centena de contentores num mês

No período de docagem do Lobo Marinho, a Ilha do Porto Santo é abastecida através de carga contentorizada. A Porto Santo Line mantém o cordão umbilical ativo, ligado ao exterior, duas vezes por semana.
Dada a sua dimensão, os números impressionam: ao longo do último mês, foram descarregados na Ilha 90 contentores de 40 pés e 9 de 20 pés. Em sentido inverso, seguiu uma dezena com material diverso, desde sucata a carros, vasilhame e gás. Além das cisternas de resíduos. A Ilha importa mais do que produz.
A maior superfície comercial do Porto Santo é responsável por mais de metade deste trânsito de carga: 52 contentores de 40 pés (26 frigoríficos, 26 normais), além de mais 4 contentores frigoríficos de 20 pés. Particulares e empresas, por seu turno, ficam-se pelos 38 de 40 pés, frigoríficos e normais e, ainda, 4 de 20 pés.
Manter a Ilha a funcionar

A figura impressiona. O vozeirão também. Já lhe trouxe até algumas queixas, conta, Roberto Sousa, no seu modo franco e honesto. “As pessoas queixam-se que eu sou bruto e falo muito alto, mas estamos aqui para ajudar.”, acrescenta. E não foge à polémica, “Somos uma empresa, claro, mas nunca esquecemos a parte social. Recebemos três pedidos de ajuda todos os dias, vindos de toda a Região.”
O peso do sobrenome não o incomoda. “O meu número de telemóvel é público, procuro sempre aconselhar da melhor forma quem quer trazer ou enviar alguma coisa por mar”.
Quanto ao regresso do Lobo Marinho, Roberto Sousa assume que é a pandemia a ditar as regras e lança um apelo: “as pessoas têm que ser responsáveis. Neste momento estamos em coma induzido, se entramos em coma profundo…. É importante que o Navio regresse, mas em segurança. Para todos.”
No armazém, a calma regressa. De tempos a tempos um retardatário vem buscar uma encomenda. A azáfama regressará daqui a dias, esperemos que diariamente.