
“Desta vez prometo, mãe, a desculpa é mesmo plausível!”
por Lécia Rodrigues
Hoje está a ser um dia diferente!
Com diferente não quero dizer que esteja a ser propriamente bom. Mais, até diria que o ponteiro está ligeiramente inclinado para o lado negativo. Talvez um pouco à semelhança do ponteiro da minha barriga, que ainda não parou de dar às horas. Sim, estou cheia fome!
Culpado seja o arquiteto da universidade, que decidiu pôr umas escadas mesmo antes de chegar à cantina. E o pior é que ainda teve a lata de pôr umas escadas, que, de igual forma a todas as outras, são mais difíceis de subir do que descer. Agora, para se juntar a esta festa de juntas, em que junto tudo e não tenho nada, deparo-me com a cantina da universidade fechada!!! Que bom, a sério, o ponteiro acaba mesmo de subir mais um pouco só de excitação com a novidade.
Aliás, se não fosse a ausência de comida no meu estômago e se o meu corpo não começasse a ressentir-se da falta de energia, até dava um pulo de alegria para festejar (acho que vou só deixá-lo para mais tarde).

O mais engraçado desta história é que uma das principais coisas a serem afetadas com este problema de “ter fome”, é o humor. Pois, logo eu que já estava tão bem disposta.
E por esta mesma razão, talvez seja uma atitude sensata não ligar aos meus pais nas próximas três horas. Já estou mesmo a ouvir a minha mãe a reclamar pela falta de assiduidade dos meus telefonemas. Eu até me arrisco a adivinhar que o seu discurso será algo do género: “Sempre a mesma coisa.” e mais, “Tu só arranjas desculpas”. Sempre a mesma coisa?
Os pais universitários é que ainda não conseguiram entender que nós, enquanto estudantes, procuramos usufruir ao máximo as nossas horas de almoço. É que das duas uma, ou são usadas para conversar acerca da matéria lecionada na aula anterior, ou para discutir acerca dos futuros brilhantes que nos aguardam lá fora. Que mundo cor de rosa o nosso!
Mas não, devem pensar o quê? Que perdemos tempo a lamentar o facto de termos descoberto que afinal o nosso professor mais giro é casado? Que de facto foi uma notícia bastante triste de se receber e que eu e as minhas amigas ainda estamos a tentar perceber como vamos superá-la.
Desta vez prometo, mãe, a desculpa é mesmo plausível. Não que das outras vezes não fosse, mas esta implica uma luta desesperada pelo meu corpo para conseguir sobreviver. Trágico! Por isso recomento: se estão num dia mau, com fome e ainda chegam à cantina e ela está encerrada, não falem com quem quer que seja! Estarão a pôr em perigo a harmonia das vossas relações e quem sabe, a vossa própria vida (não que já não estivessem a lutar por ela). Eu até me a arriscaria a recomendar: “não acordar”, se conseguisse prever que este seria o episódio. Enfim, acho que já deu para perceber que a minha resposta face a este problema não está a ser realmente muito eficaz.
Não me culpo a mim, cabe-me, como aluna de ciências, culpar todo o processo implicativo que os baixos níveis de glicose na minha corrente sanguínea trazem. Afinal estou a estudar para quê? (continua…)