Livro de José Campinho celebra os líquenes da Ilha

Mais do que um livro, o testemunho da riqueza patrimonial da Ilha

Memorize este título Líquenes do Porto Santo. E, se me permite a ousadia, acrescente uma nota: Obrigatório!.

O mais recente livro de José Campinho – Líquenes do Porto Santo é de leitura obrigatória. Não como a obrigação que nos provoca uma tensão nos ombros, ou como aquele compromisso que adiamos até ao inevitável. Líquenes do Porto Santo é obrigatório para quem não para de se surpreender com a Natureza que nos rodeia e para quem ama o que é belo, em particular, através da fotografia.

A Natureza, no Porto Santo, ainda é capaz de surpreender? Absolutamente! Habitada em permanência há seis séculos, o que poderia esta montanha vulcânica submarina, que emergiu há cerca de 15 milhões de anos, esconder? Nada, absolutamente nada, diríamos nós! Mas o olhar atento e o espírito inquisitivo do Professor José Campinho mostraram-nos o contrário: o Porto Santo é guardião de uma exuberante flora liquénica. Líquenes extraordinários, muitos deles endémicos. Num registo estruturado, revelador de uma pesquisa aturada, Líquenes do Porto Santo apresenta alguns estudos científicos, o mais recente de 2020, de H. Sipman e A. Aptroot que nos dão conta da existência de 221 espécies de líquenes existentes na Madeira e oito delas exclusivas da Ilha do Porto Santo!

A flora liquénica é um tesouro que urge proteger.

Se todos estes factos científicos não foram suficientes para aguçar a sua curiosidade, considere a escrita do autor. Herdeira de uma experiência jornalística de vários anos, a obra transforma a apresentação desta “erupção de pele” – significado da raiz etimológica grega para líquen e a aspereza da linguagem científica, numa declaração poética, mas rigorosa. À exatidão dos factos históricos e aos frios dados da Botânica, o autor adicionou leveza e clareza na tessitura vocabular. Atentemos neste excerto:

Os líquenes são colonizadores comunitários. Partilham o mesmo território, muito frequentemente, diferentes espécies de líquenes, entrando ou não em competição pelo espaço disponível, ocupando-o tangencialmente, de modo sobreposto ou até interligado. (p. 86)

Se, ainda assim, não está convencido, parta à descoberta, aleatória, de cada imagem, de cada fotografia! E deixe-se maravilhar pelo extraordinário registo de cada líquen, da sua forma e, sobretudo, do mosaico policromático que ele constitui. Surpreenda-se com a beleza do Lecanora sulphurella, do Chrysothrix candelaris (líquen-pó-de-ouro), ou do rocella tinctoria (popularmente designado por urzelina, e cuja exploração carecia de autorização régia!)

Por tudo isto e do muito que ficou por dizer, folhear Líquenes do Porto Santo não é uma obrigação, é um prazer! Obrigado, Professor Campinho.

Carlos Silva

Depois de uma viagem tranquila, mergulhado num mar de dúvidas, aportei a 2 de setembro de 1999, à Ilha do Porto Santo! À chegada, uma doce e quente onda de calor, qual afago de mulher amada, assaltou-me, até hoje! Do sucedido de então, até aos dias de hoje, guardo-o na memória; os sucessos, de hoje em diante, aqui ficam, para memória futura, da minha passagem pela Ilha!

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