Baiana das mil histórias

Ao fundo, o edifício “da Baiana”. Crédito: CRAM

Imponente!

O edifício “da Baiana” impõe a sua presença no centro da cidade. Seja pela sua dimensão arquitetónica, seja pelas memórias que guarda; o velhinho solar permanece uma referência da Ilha do Porto Santo.

“A Baiana era o centro do mundo!” recorda Maria José Velosa. “Pelo menos para mim, que ali nasci a 11 de Julho de 1960, num quarto com vista para o mar.”. O edifício, na altura propriedade do barão belga van-Beneden, refugiado na Madeira talvez por motivos de saúde, era tão grande que acolhia a família de Honório Albino da Silva e diversos espaços comerciais. “A minha mãe entra naquele casarão por via do casamento, com Honório Albino da Silva. O meu pai explorava o Apolo 14 e uma modesta residencial no primeiro andar.”

Maria José Velosa, guardiã das memórias do solar

Situado em pleno centro histórico da cidade do Porto Santo, a Baiana destaca-se pela sua simetria e sobriedade, com uma pequena torre avista-navios no centro, “caraterística dos solares setecentistas madeirenses símbolo do poder económico, social e político da família proprietária “, como refere o Inventário do Património Imóvel da Ilha do Porto Santo, livro da autoria de Élvio Duarte Martins de Sousa e Fátima Filipa de Menezes.

Alvo de uma intervenção de beneficiação profunda, o edifício tornou-se recentemente famoso por uma descoberta arqueológica – três matamorras. Nada que espante os mais antigos. “Eu lembro-me de o meu pai comentar que existiriam duas matamorras no exterior, por baixo daquela árvore antiquíssima e, na minha visita recente ao prédio, constatei a existência no interior do mesmo de outras três”, referiu Maria José Velosa. Ocasião para esta antiga residente recordar também os aromas a bolo do caco, cozinhado a lenha e a suculenta batata-doce com que a mãe presenteava os filhos.

Além das matamorras e das memórias de infância Maria José Velosa recorda a existência de outros testemunhos históricos. Na conversa com o jornal digital A Ilha, refere a existência de “dois leões em madeira, muito deteriorada, com a cor praticamente inexistente, com uma juba esculpida, idênticos, segurando um brasão que penso seria da família van Beneden, muito tristes, no sótão”, acrescentou.

Rico em História e em histórias, a Baiana é um edifício emblemático na Ilha. (Foto do barão van-Beneden -Arquivo AMB)

A dimensão do solar e a sua localização permitiu-lhe acolher, desde sempre, diversos projetos comerciais: não só os já mencionados, mas uma carpintaria e o restaurante que lhe viria a dar o nome e fama – a Baiana. Inicialmente explorado pelo senhor Firmino Chagas Faria, pai das primeiras professoras do Porto Santo, cujo Externato funcionava numa casa nas traseiras do edifício, atual sede de um partido político. Mais tarde, o carismático empresário, Sr. José Lino Pestana, explorou, em sociedade, o mesmo espaço.

No primeiro andar, chegou a existir também a sede de um clube desportivo, o que muito atormentava os residentes, pelo ruído que naturalmente gerava. A torre avista-navios serviu igualmente de espaço de convívio para alguns jovens porto-santenses e onde pontuava aquele que viria a ser o primeiro presidente da Câmara Municipal pós 25 de Abril.

Profundamente alterado ao longo dos tempos, aguarda-se a sua reabilitação

No exterior, onde atualmente é a praça, existia uma pequena horta, onde o antigo chefe dos faroleiros do Porto Santo, reformado, se entretinha, cultivando legumes como: o tomate, o alho, a cebola. “Numa altura em que praticamente não existiam serviços na Ilha, todas as pessoas exploravam uma pequena horta para subsistência”, acrescentou a nossa interlocutora. “Existia uma pequena levada que passava pela casa do sr. Padre (atual Casa-Museu Colombo) que trazia a água para regar a horta”.

Rico em História e histórias, a intervenção no edifício “da Baiana” gera agora novas expectativas quanto ao seu futuro. É uma página em branco que se abre para aquele que é um dos mais emblemáticos espaços da Ilha.

Carlos Silva

Depois de uma viagem tranquila, mergulhado num mar de dúvidas, aportei a 2 de setembro de 1999, à Ilha do Porto Santo! À chegada, uma doce e quente onda de calor, qual afago de mulher amada, assaltou-me, até hoje! Do sucedido de então, até aos dias de hoje, guardo-o na memória; os sucessos, de hoje em diante, aqui ficam, para memória futura, da minha passagem pela Ilha!

2 thoughts on “Baiana das mil histórias

  1. Boa tarde ,têm muito mais que contar ,falta muito mais ,essa casa ,além da Baina tinha outros estabelecimento .Porque não se fala.

    1. Boa tarde! Tem toda a razão, obviamente! Mas seria impossível contar as mil histórias do edifício e dos outros estabelecimentos num só artigo. Será necessário um Livro! Caso queira partilhar alguma história, terei todo o gosto em publicar. Cordialmente, CS

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