
Tenho uma imagem muito nítida do Sr. Gouveia.
Na manhã do dia 25 de abril de 2014, uma manhã já de Primavera, o movimento cívico Somos Porto Santo (SPS) preparava mais uma iniciativa – assinalar a data da revolução com o lançamento de joeiras. Enquanto montávamos aquele tradicional brinquedo infantil, o sr. Gouveia foi-se aproximando, com a tranquilidade e a autoridade de quem conhecia bem as joeiras.
– É melhor cruzar ali! Talvez se reduzissem um pouco o tamanho daquele suporte! Não se esqueçam da cauda, por causa do equilíbrio!
Ignorantes na matéria, aceitamos de bom grado os conselhos e, pouco depois, era ver as joeiras a erguerem-se no ar, cada vez mais alto, cada vez mais alto. Os gritos de espanto e de alegria foram enchendo o ar daquela manhã de abril. O sr. Gouveia contava memórias dos seus tempos de infância, partilhámos histórias, rimos e conversámos um bom bocado.

Depois dessa data, fui-me cruzando com ele pela Vila e sempre um sorriso crescia com a recordação do dia das joeiras. Depois os encontros foram rareando, rareando. De vez em quando encontrava os filhos, profissionais dedicados, e perguntava-me do que teria sido feito do sr. Gouveia. Tive a honra de ser professor de uma neta, aluna dedicada, que me fazia recordar o avô que me ensinou a lançar joeiras.
Há tempos ouvi dizer que estava doente e fora encaminhado para o Hospital Nélio Mendonça, no Funchal. Temi o pior.
Esta semana, um post no Facebook de uma sobrinha anunciava o pior. Os jornais regionais também deram conta da triste novidade: Faleceu o primeiro porto-santense com covid. Enfim, os jornais…
Lembrei-me, então daquela manhã de abril, da simpatia, da tranquilidade, do sorriso, da perícia do sr. Gouveia.
Até sempre, sr. Gouveia! E lá no alto, como uma joeira, olhe por nós!