
“Aproximo-me, são as minhas amigas.”
( Crónica de Lécia Rodrigues)
A cantina continua fechada. O campus universitário tornou-se a opção principal para almoçar. Um campus é onde todas as faculdades da mesma zona se juntam. E o que é que eu tenho para dizer acerca deste sítio? Sinto-me numa batalha naval e sinceramente, sinto que vou ser o primeiro barco a afundar. Este sítio cheira a rivalidades. Os olhares… esses quase que matam. Mas deixem-me que vos diga, são das guerras que mais prazer me dá em assistir.
Aqui vê-se de tudo! Futuros engenheiros a passarem de camisas, engomadas se viverem com os pais, enxovalhadas se viverem sem eles. Um grupo de rapazes a transpirar, que, das duas uma, ou são de desporto, ou acabaram de descobrir que afinal as faculdades não vão fechar, pelo menos até ao Natal. Não, o teste não vai ser online. E sim, vão ter de estudar. Do lado oposto, alunos de direito a darem a sua opinião acerca da disposição das mesas e enquanto isso, os de contabilidade fazem contas de quantas vezes já foram mandados calar. É notória também, a quantidade de pessoas chateadas com uma tal de “Anatomia”, que coitada, aqui no Porto ainda consegue ser mais maltratada. Já me disseram que eram estudantes de medicina.
“Aqui vê-se de tudo!Futuros engenheiros a passarem de camisas,…”
O pessoal de nutrição faz fila para o Macdonald’s e os de psicologia tiram anotações para estudos futuros como “o comportamento contraditório do ser humano”. Vejo também uma rapariga que parece mesmo estar à beira de um burnout (stress excessivo devido a uma sobrecarga ou excesso de trabalho). Ah esperem, essa sou só eu distraída a olhar para o meu reflexo no telemóvel. Componho-me e, numa mesa grande, encontro um ajuntamento de raparigas- quando mete tanta mulher ao barulho, só podem ser de Saúde. Aproximo-me, são as minhas amigas. Aproveito, sento-me e fico na esperança de sobreviver a mais uma refeição.
Ao mesmo tempo que como, ouço alguém, bem ao fundo, a gritar algo que soa como um “APAZ”, só porque foi passado à frente na fila para comer. Aí o mundo para, e lembro-me “Tu não estás sozinha. Tu não és a única incompreendida”. Porque realmente, ser das ilhas, é um estado de espírito.