Last Updated on 11/28/2020 17:48 by Carlos Silva

“…pensei que a mesma senhora não poderia gritar comigo duas vezes no mesmo dia…”
(Crónica de Elisa Freitas)
Ser estudante longe de casa tem muito que se lhe diga, ainda por cima numa pandemia. Estou no meu terceiro ano de licenciatura na Universidade da Madeira e ainda me impressiono com o que aqui acontece, especialmente agora. Com a Covid-19 a minha vida no geral mudou muito, principalmente a minha vida universitária: o meu horário mudou, as minhas aulas mudaram, os professores mudaram, tudo mudou. Mesmo com um horário reduzido a quintas e sextas, tenho a oportunidade de assistir e a experienciar algumas situações tanto incómodas como cómicas.
Neste artigo vou dar o exemplo de um dia em particular. Era uma quinta-feira e tinha uma aula às 9h da manhã. Na entrada da Universidade tem uma mesa com um computador onde somos aconselhados a passar o cartão de estudante para controlo de entradas no edifício. Como não é obrigatório e, sendo o meu estado quase normal pela manhã, estava distraída e entrei sem passar o cartão. Como já vinha atrasada para a minha aula, passei rapidamente quando ouvi uma senhora a gritar comigo para voltar atrás. Indignada, mas muito tímida para demonstrar o meu desconforto, voltei para trás e passei o cartão depois de dizer um “bom dia” irónico. O dia continuou dentro do novo normal.
Chegou a hora do lanche e como habitual, eu e as minhas colegas dirigimo-nos ao bar para lá lanchar. Sentamo-nos, as minhas colegas foram fazer o pedido e eu, como tinha trazido lanche de casa, fiquei à espera na mesa. Uma senhora, tão “simpática” como a senhora do cartão, veio me dizer que não poderia estar ali sentada se não estiver a consumir algo do bar. Confusa, perguntei se não podia mesmo ficar lá, visto que estava coma as minhas colegas e estas iam consumir. A senhora respondeu muito rápido que não, que é contras as regras. Levantei-me ainda um pouco confusa, avisei às minhas colegas que ia comer na rua e elas muito solidárias, foram comigo.
Ao entrar na Universidade tem também uns dispensadores de álcool em gel para a desinfeção das mãos, um mesmo na porta e outro a poucos metros de distância do primeiro. Atrasada novamente e distraída a procurar no meu telemóvel a sala onde vou ter a aula passo o primeiro dispensador, apercebendo-me rapidamente pensei em desinfetar as mãos no outro, que estava logo a seguir. A mesma senhora do cartão voltou a gritar comigo, ouvi um “larga o telemóvel já e vem desinfetar as mãos! Já!”. Eu ignorei porque pensei que a mesma senhora não poderia gritar comigo duas vezes no mesmo dia, mas afinal podia. As minhas colegas avisaram que a senhora estava a falar comigo e eu, já sem forças para argumentar, voltei para trás e desinfetei as mãos cumprindo com a ordem da senhora que, para conhecimento geral, não me conhece de lado nenhum e eu jamais quebraria as regras de segurança para o bem comum da saúde publica.
Por fim e cansada já de tudo isto, deitada na minha cama, dou por mim a pensar que a clareza e tranquilidade do olhar de outra hora já não são as mesmas. Este momento de muito tensão também revela muitas outras faces dos seres humanos principalmente sobre individualismo, compaixão, empatia e as relações interpessoais. Esta Pandemia está à flor da pele das pessoas!
Obrigada Professor Carlos por ter dado esta oportunidade à Elisa. Ela adora escrever ? e sonha ser jornalista/escritora. Quem sabe um dia este sonho se concretize e ,esta sua primeira Crónica para o Jornal Digital
” A Ilha” venha a ser relembrado? Quem sabe? Fique bem. ?
Obrigado, Susana! Mas quem tem que agradecer é o Jornal Digital que ganhou muito com a crónica da Elisa. E tomei a liberdade de a desafiar a escrever outras crónicas. Aliás, o jornal está aberto a todos e a todas as opiniões, em particular aos que são do Porto Santo e sobre o Porto Santo. Cordialmente, CS